Desconfio que sou uma pessoa estranha. Passa-se algo de errado. Se calhar sou um bocado maluco. Tenho o hábito de murmurar quando estou sozinho.
“As pessoas… As pessoas…”
“Foda… Foda-se…”
Tenho uma grande vontade de estar sozinho. Evitar pessoas ao máximo. As pessoas magoam-me. Sinto-me muito magoado. Sinto-me traído. A minha perceção é que a maioria das pessoas é extremamente fútil. Só querem saber de status, dinheiro, e até mesmo diversão. Ser “divertido”, parece que não, mas é algo fútil. É a capacidade de entreter, divertir, fazer outros rir. Isso é momentâneo. É um tipo de gratificação instantânea.
Custa-me escrever este tipo de textos. Mas acho que é importante. Parece que estou a transmitir uma narrativa de vítima… Eu não vejo bem assim. Vejo isto mais como uma situação de incompatibilidade. O meu temperamento, a minha personalidade, não é bem compatível com aquilo que a sociedade valoriza. Na minha cabeça, sou um poeta. Um tipo com um temperamento meio feminino. Acho que sou muito mais sensível do que a maioria das pessoas. Ofendo-me com maior facilidade. Sinto as coisas com mais profundidade. Sou melancólico. Durante algum tempo, vi isto como um defeito por corrigir. Mas cheguei à conclusão que este é o meu estado natural. Não posso deixar que os gurus de desenvolvimento pessoal me façam gaslight. Nem todos os homens são autoconfiantes, brincalhões, musculados. Eu sou diferente. Nem sequer sou especial neste sentido, existem muitos outros homens com o meu temperamento.
Esta vida desiludiu-me imenso. As pessoas desiludiram-me imenso. Não me sinto incompreendido; sinto-me… ignorado. As pessoas têm um conjunto de heurísticas para determinar se alguém é de confiança ou não. Se o outro é “estranho”, “suspeito”.
- Não tem amigos? Suspeito.
- Nunca teve namorada? Muito suspeito.
- Não gosta de conduzir? Estranho.
- Não gosta de sair à noite? Estranho.
- Não tem atividade nem amigos em NENHUMA rede social? Muito, muito estranho.
Evitar. Não dar confiança. Tudo sinais de alerta. “Red flags everywhere”.
É assim que as pessoas pensam.
Não há grupo em que me enquadre. Nem mesmo nos “estranhos”. Neurodivergentes, furries, anti-capitalistas, artistas digitais, centristas, direita, conservadores, nada. Não é uma questão de encaixe perfeito, não é isso o que procuro. O que procuro é algo onde eu me sinta confortável. Uma comunidade de pessoas que não olhe para mim e me interprete como inimigo, ou bizarro. Acho que a maior desilusão foi com os neurodivergentes. Eles julgam constantemente os “normies”, os “neurotípicos”, e no entanto, eles atacaram-me com a mesma força e intensidade com que eles próprios foram atacados. Eles exigem tolerância, paciência, e dão 0 em retorno. Não há margem. É uma situação frustrante. Ser julgado pelos NT’s, por ser diferente. Ser excluído pelos divergentes, por não me encaixar nas suas narrativas, rótulos, e ideologias extremistas. Ser atacado pela direita e conservadores (que vivem numa realidade alternativa), e ser antagonizado pela esquerda, que vêm tudo em preto e branco, literalmente. Literalmente vêm-me como um dos maus, por ser branco. Por causa da merda do colonialismo e “fragilidade de brancos” e essas merdas de extrema esquerda que eles acreditam. Não há margem de discordância, nem mesmo de 10%.
A sociedade castiga a autenticidade. Apenas CERTOS TIPOS de autenticidade são aceitáveis. Outros? Neurodivergentes? Heterodoxos? Nem pensar. Autenticidade de uma feminista radical? As pessoas até batem palmas. Mas outros tipos, nem pensar. É tudo esquerda vs. direita, bons contra maus. E o pior é que as pessoas mais falsas, são assim, porque funciona. Funciona participar em política de escritório. Dizer coisas politicamente corretas, esconder o politicamente errado, esconder o desagradável, dizer em voz alta o que nos dá “pontos morais”. Na minha cabeça isso é ridículo! Mas é o que a sociedade recompensa. As pessoas são tribais. Nunca me deixam de impressionar. São incrivelmente tribais. É tudo uma questão de grupos. E quem não tem grupo? Quem não é leal a um grupo ou ideologia? O nome desse é Satanás.
Uma pessoa que leia isto há de pensar “Estás a exagerar! As pessoas não são todas assim. A maioria não pensa assim.”
A questão não é a política. Acredito, ou pelo menos espero, que esta polarização diminua dentro de alguns anos. A questão não é o lado político, não é o conteúdo. A verdadeira questão é a natureza humana. Sinto que a compreendo cada vez melhor em cada dia. E com a maior compreensão, a minha desilusão aumenta.
…
Eu gostaria de poder trabalhar sem sentir que vou cair para o lado. Gostaria de poder viajar, gastar dinheiro, sem me sentir culpado. Gostaria de poder dizer o que sinto em voz alta, sem participar em jogos sociais.
…
É difícil explicar. Parece que estou a comunicar uma mentalidade rígida. Uma mentalidade de “vou dizer tudo o que me vem à cabeça! Vou gastar todo o meu dinheiro num só dia!” Não é nada disso. O problema é que o pêndulo está muito, muito, muito empurrado para o outro extremo. Acho que mereço equilíbrio. E acho que nunca hei de o ter.
Eu gostaria de sentir intimidade. Gostaria de abraçar alguém no sofá. Sentir amor incondicional. Nem sequer é uma questão sexual. É uma questão de amor. Eu bem disse que tenho temperamento de poeta… É assim que vejo as coisas. E assim como o estereótipo do poeta, sinto-me deprimido.
Em psicologia, é o Id, que é o lado animal. E há o Superego, o lado consciente e moralista. A sociedade, neste momento, está de um certo modo, nos dois extremos. As pessoas hoje em dia têm convicções muito sérias sobre o certo e o errado (Superego), convicções que não consideram subjetivas. Consideram-nas como “decência básica”. Por isso é que 10% de divergência é inaceitável. As convicções são muito enraizadas. Por outro lado, o Id também está fora de controlo. Esta aberração de Onlyfans, a dopamina das redes sociais, a cultura obcecada por comida, por gratificação instantânea. É um Id estranho.
E nesta sociedade, tanto o meu Id como o meu Superego sentem-se desnutridos. O meu Id… Credo. Acho que é por isso que sofro o que sofro. Sinto-me reprimido. Sinto que estes prazeres são superficiais, não satisfazem o real. Aquela intimidade, aquela paz. Isso é o que o Id quer. E também autenticidade. São aspetos cruciais, que não tenho conseguido saciar.
E claro, o Superego… Sinto-me repugnado com vários aspetos da sociedade atual. O racismo disfarçado de “interseccionalidade”, a cultura Woke, o ativismo radical, a cultura de cancelamento… E não só dentro da política. Mas no dia-a-dia. O ataque aos desempregados, aos jovens, aos “estranhos”. Esta noção de “defeito” que existe na cabeça das pessoas. Não é moralismo no sentido convencional. Mas a partir do momento que alguém olha para outro e pensa “red flag”, isso é um juízo de valor pesado.
“Esta pessoa não é de confiar.”
“É melhor ter cuidado.”
“É melhor não lhe dar corda.”
“Não sei o que é… Ele deixa-me desconfortável. Vou olhar para o telemóvel por 15 minutos, para ignorar o seu olhar.”
…
Não sei se as pessoas foram sempre assim, ou se isto é o produto de várias doenças da era atual. Eu gosto de acreditar que no passado, as pessoas tinham mais estigmas nesta ou naquela área, mas que eram mais humanas. Quero acreditar que antigamente existia amor, e não apenas obsessão por status e dinheiro. Quero acreditar que antigamente existia mais coesão social. Menos individualismo exagerado. Não sei se isto é uma verdade perdida, ou uma fantasia bonita na minha cabeça.
Sinto cada vez menos vontade de participar nesta sociedade. Sinto cada vez menos paciência para o desenvolvimento pessoal. E sinto-me cada vez mais triste.
…
Se definirmos “normal” como um conjunto de valores abstratos, com um conjunto de métricas de personalidade e comportamentos, a partir de um certo desvio, a pessoa é considerada “anormal”. Acredito seriamente que sou uma pessoa diferente. Acredito que os conselhos de autoajuda, muitas vezes falham comigo, por ser diferente. Acredito que grande parte do meu sofrimento não é por falta de vontade, competência, bondade, boa mentalidade. Mas sim por incompatibilidade, entre mim e este mundo.
Não me sabe bem escrever este tipo de coisas. Tenho noção que soam melodramáticas. Mas é importante explorar estes sentimentos. Estou num ponto na minha vida em que faço as coisas por obrigação. Não me sinto apegado a estar vivo. Sinto com frequência “isto não é para mim”. Estes jogos sociais não são para mim. Trabalhar até cair para o lado, isso não é para mim. Dar tudo a outra pessoa, investir tempo e esforço, e ainda assim ser rejeitado, isso não é para mim. Ler livros de autoajuda até aos 50 anos, isso não é para mim. Ouvir boomers a criticar a minha geração, a dizer que somos “preguiçosos”, isso não é para mim. Adaptar-me ao “mercado de trabalho”, e “mercado social”, e “mercado dos encontros”, isso não é para mim.
Sinto que dei muito e recebi pouquíssimo em retorno. Sinto que não tenho mais para dar.
A minha vida ainda tem propósito. Isso é a única coisa que me dá força. Sinto um chamamento para escrever livros. Histórias de terror, fantasia, coisas bizarras. Sinto isto como uma obrigação superior a mim mesmo. Este propósito não é real. Foi a minha mente que o inventou. Mas sinto-o como se fosse real. E é esta a missão que me dá força.
Tirando isso… Nada mais me dá força. Sinto que já passei por suficiente. Já fui rejeitado vezes suficientes. Esta vida não foi… Não sei. O que acho triste é a falta de vontade das pessoas. A falta de tolerância, paciência, falta de mente aberta, falta de tomada de riscos. Acho que as pessoas estão numa realidade bizarra… Vivem numa mistura de factos e mentiras. Vivem no extremo do prazer em certos sentidos, e extremo de repressão noutros. As pessoas criaram uma sociedade de medo, insegurança, pensamento de somatório zero… Sem motivo. Há mais do que recursos suficientes para todos. Não apenas recursos materiais, mas espirituais. Para quê tratar o amor como uma coisa rara? Uma coisa seletiva, limitada, egóica? Porque é que as pessoas…
Porque é que o lado animal é tão rejeitado? E porque é que o Superego… O que é que se passa? O que se passa com as pessoas?
Uma pessoa não precisa de um carro novo, uma casa enorme, uma conta no banco com vários dígitos, um círculo social enorme, não é necessário isso tudo para ser feliz. O problema é que quando a sociedade promove o individualismo extremo, o materialismo extremo, o ativismo extremista, isso cria uma sociedade estragada. Uma sociedade sem valores espirituais.
A solução não é entrar numa igreja… Como os conservadores insistem. Não é o Islão, nem o Cristianismo, nem o tradicionalismo. Isso já foi ultrapassado. A sociedade não evolui para trás. Não é assim que as coisas funcionam.
E a solução também não é a autoajuda infinita. Mindfulness, meditação, ginásio, Tony Robbins, hustle culture, cursos superiores, isso não funciona. Isso é alimentar os vícios da sociedade decadente. Isso é dar heroína ao drogado. Parece um exagero, mas é verdade.
E também não é a espiritualidade. Não é o New Age, nem Non-Duality, nem coisas dessas.
Como é possível em 2025, com os avanços tecnológicos que alcançámos, a sociedade ser uma merda tão grande?
…
Só sei que não quero participar nisto. Vou focar-me nas minhas histórias. O resto é para ignorar.